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José Angelo Machado discute soluções e barreiras na implementação da Regionalização do SUS  

Por Observatório do SUS

José Angelo Machado, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apresentou uma análise detalhada sobre a regionalização do Sistema Único de Saúde (SUS) durante palestra no seminário Desafios da Regionalização da Política de Saúde no Brasil: Obstáculos e Alternativas, promovido pelo Observatório do SUS em parceria com a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) em outubro de 2023.

Machado destacou a complexidade e a relevância do tema para sua pesquisa e trajetória profissional. Ele enfatizou a importância da regionalização e os desafios inerentes à implementação de arranjos intergovernamentais cooperativos no setor da saúde, comparando a realidade brasileira com a de outros países que enfrentam problemas similares de cooperação regional.

A regionalização do SUS, de acordo com o professor, apresenta um paradoxo significativo: a garantia plena de saúde a todos os cidadãos brasileiros, independentemente do local onde residem, exige uma pressão centrípeta sobre o Estado. Ao mesmo tempo, a descentralização da gestão para os municípios cria uma força centrífuga, complicando a implementação uniforme de políticas de saúde. Ele lembrou que cerca de 70% dos municípios brasileiros têm até 20.000 habitantes, o que dificulta a incorporação de tecnologias mais complexas e a realização de procedimentos médicos de alta complexidade.

Machado analisou dois principais arranjos de cooperação intergovernamental: os consórcios de saúde e a pactuação regional. Os consórcios, descritos como acordos voluntários e horizontais entre municípios, permitem a produção e distribuição compartilhada de serviços. No entanto, ele apontou limitações significativas nesse modelo, como a necessidade de balanço orçamentário e a restrição de serviços ao interesse comum dos municípios participantes.

Por outro lado, a pactuação regional, que envolve a coordenação de metas físicas e financeiras entre estados e municípios, enfrenta desafios maiores devido à sua complexidade e à necessidade de garantir a integralidade da atenção à saúde. Machado destacou que a pactuação regional lida com garantias plenas estabelecidas na Constituição, sem a opção de selecionar quais serviços serão incluídos, o que demanda uma maior delegação de autoridade e mecanismos de coordenação eficazes.

O professor da UFMG propôs que uma autoridade regional, com poder para monitorar o acesso e implementar medidas redistributivas, poderia ajudar a superar as barreiras de confiança e coordenação entre os municípios. Ele sugeriu que o estado assumisse um novo papel nesse processo, garantindo o acesso integral à saúde para todos os cidadãos da região.

Machado concluiu destacando a importância de não descartar a experiência acumulada na regionalização do SUS e de buscar soluções que absorvam as incertezas e riscos gerados pelas barganhas entre os municípios. Ele também ressaltou a necessidade de um financiamento adequado e cofinanciado pela União e pelos estados para garantir a sustentabilidade do sistema, destacando a necessidade de fortalecer a cooperação intergovernamental e implementar medidas que garantam a integralidade e a equidade no acesso aos serviços de saúde.

Assista abaixo à palestra de José Angelo Machado, transmitida ao vivo pelo canal da ENSP no YouTube, e confira sua apresentação aqui.

Para saber mais sobre o seminário, acesse a cobertura e a transmissão completa do evento.

por Júlia da Matta


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