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Pela primeira vez, ENSP é designada Centro Colaborador da Opas/OMS em sistemas de saúde com ênfase na APS

Por Observatório do SUS

A ENSP foi designada Centro Colaborador da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) em Formação e Desenvolvimento Estratégico para Sistemas de Saúde com Ênfase em Atenção Primária à Saúde (APS). Com a designação, a Escola é uma das primeiras instituições na América Latina a se tornar um Centro Colaborador com enfoque especial na APS.  

“Essa é uma conquista coletiva, resultado de 70 anos de trabalho da nossa instituição, de cada trabalhador, trabalhadora e discente que dedicaram sua passagem por aqui ao fortalecimento da saúde pública, da saúde coletiva e, nas últimas décadas, ao fortalecimento do SUS. O reconhecimento que recebemos hoje é fruto do papel estratégico da ENSP na construção do sistema de saúde brasileiro e nos dá mais força para contribuir com sistemas de saúde em âmbito regional e global”, celebra o diretor da ENSP, Marco Menezes.  

Para o vice-diretor da Escola de Governo em Saúde da ENSP, Eduardo Melo, a designação expressa o reconhecimento da relevância internacional da atuação da ENSP em solo nacional e em outros países nas áreas de formação, pesquisa e cooperação técnica e acadêmica, contribuindo para a constituição de sistemas públicos de saúde abrangentes e tendo a APS como um importante pilar. “É um reconhecimento que considera o que já fazemos na ENSP, prevendo a continuidade de ações e também a realização de novos esforços e iniciativas diante dos desafios contemporâneos”, afirma Melo, responsável pelo Centro Colaborador. 

Segundo o vice-diretor, a designação, que terá a duração de quatro anos, possibilitará maior visibilidade internacional a diferentes linhas de atuação da Escola e, indiretamente, ao SUS, além de impulsionar a instituição a consolidar processos e explorar novas frentes, modos e espaços de atuação. 

Enquanto Centro Colaborador, a ENSP terá, dentre outras atribuições, o desenvolvimento de ações para o fortalecimento de capacidades institucionais das Escolas de Saúde Pública para enfrentar os desafios dos Sistemas de Saúde; o apoio ao desenho e desenvolvimento de pesquisas e estudos estratégicos sobre e para os sistemas de saúde; e o auxílio à formulação, à implementação e ao monitoramento de ações para fortalecer os Sistemas de Saúde com ênfase na Atenção Primária. 

Melo destaca que Sistemas de Saúde, Formação em Saúde Coletiva e Atenção Primária à Saúde são núcleos centrais do Centro Colaborador, com diferentes linhas de ação daí derivadas. Segundo ele, é fundamental partir de um olhar mais global sobre a saúde e considerar grandes desafios dos sistemas de saúde na América Latina (como a segmentação e fragmentação), em boa parte ligados ao lugar do público e do privado, ao modelo predominante de desenvolvimento e às desigualdades que nos marcam, às quais se contrapõem, por outro lado, um conjunto de lutas por direitos, reconhecimento e cidadania. Além disso, ter também em mente os modelos de atenção, a situação de saúde e a reestruturação produtiva na saúde é fundamental para contextualizar o lugar da APS.  

A Atenção Primária à Saúde, segundo o vice-diretor, é uma área estratégica e base dos sistemas de saúde, podendo ser vista também como um espaço de desenvolvimento de saberes e práticas de várias ordens, além de dispositivo de mudança na Saúde. “Na ENSP, a APS é uma área transversal que mobiliza, direta e/ou indiretamente, diferentes atores, grupos, programas, departamentos e centros, com distintas intensidades e ênfases. A partir da APS, também se pode pensar, por exemplo, em trabalho; formação; organização e gestão de serviços e redes; assistência farmacêutica; promoção; vigilância e emergências sanitárias; cuidado; participação; informação e digitalização, além de vários outros temas. O Centro Colaborador foi designado considerando esta abrangência”, explica. 

O vice-diretor conta que a designação é fruto de uma atuação da ENSP com importante apoio da Opas: “A partir da aproximação da Direção junto à representação da Opas no Brasil, o processo de submissão, sabidamente exigente, durou mais de um ano, passando por inúmeras etapas e instâncias da OPAS e OMS, o que nos exigiu um grande esforço no levantamento de informações e na construção de uma proposição articulada com a lógica de um Centro Colaborador. O resultado compensou todo o empenho e, certamente, incentivará diversos atores da Escola a seguir com importantes iniciativas e a integrar novos projetos”. 

Não é a primeira vez em que a ENSP se torna Centro Colaborador da Opas/OMS. Em 2024, o Departamento de Política de Medicamentos e Assistência Farmacêutica da Escola (NAF) foi redesignado Centro Colaborador na área de Políticas Farmacêuticas. Com a nova designação na ENSP, a Fiocruz passa a ter seis Centros Colaboradores da Opas/OMS. 

O que são os Centros Colaboradores da OPAS/OMS? 

Os Centros Colaboradores (CCs) da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) são departamentos, laboratórios ou divisões dentro de instituições acadêmicas, científicas, hospitalares ou governamentais designados oficialmente para apoiar as atividades e colaborar com os programas da Organização em áreas técnicas específicas.  

A designação como CC é um reconhecimento internacional que exige critérios rigorosos de elegibilidade, entre eles: excelência científica e técnica; liderança reconhecida nacional e internacionalmente; estabilidade organizacional; vínculos sólidos com redes institucionais; e, sobretudo, um histórico de colaboração com a OPAS/OMS por pelo menos dois anos, demonstrando capacidade e disposição para apoiar suas prioridades estratégicas. 

Os CCs atuam como braços técnicos e científicos da OMS/OPAS, desempenhando funções como: 

  • Desenvolvimento e disseminação de diretrizes técnicas baseadas em evidências; 
  • Apoio à padronização de classificações e metodologias; 
  • Formação de recursos humanos e capacitação técnica; 
  • Apoio a processos de vigilância e resposta a emergências; 
  • Realização de pesquisas colaborativas e coleta de dados estratégicos. 

Além de fortalecer os programas da OMS, os CCs também ganham visibilidade internacional, ampliam suas redes de cooperação e têm acesso a oportunidades de pesquisa e intercâmbio científico. 

O papel dos CCs no Brasil: ciência, cooperação e inovação 

Atualmente, há cerca de 800 CCs em operação no mundo, sendo mais de 180 nas Américas. O Brasil conta com mais de 20 Centros Colaboradores, distribuídos por diferentes regiões e com especializações que refletem tanto os desafios locais quanto as prioridades da saúde pública global. Entre suas áreas de atuação estão: 

  • Doenças transmissíveis e negligenciadas, como hanseníase, leptospirose, raiva e arboviroses; 
  • Controle do tabaco e prevenção da violência; 
  • Promoção da saúde e ambientes saudáveis, com foco em Cidades Saudáveis; 
  • Educação e formação em saúde, incluindo educação técnica e inovação em educação virtual; 
  • Enfermagem e políticas de pessoal em saúde; 
  • Zoonoses urbanas e outras doenças de interface humana-animal; 
  • Qualidade de sorologia em bancos de sangue e bancos de leite humano; 
  • Diplomacia da saúde global e Cooperação Sul-Sul; 
  • Tecnologia assistiva e reabilitação; 
  • Monitoramento da equidade em saúde; 
  • Classificações internacionais em saúde (CID e demais classificações da OMS); 
  • Emergências em saúde pública; 
  • Políticas farmacêuticas e acesso a medicamentos essenciais. 

A diversidade temática dos CCs no Brasil revela seu potencial para integrar a produção científica, a formação de profissionais e o apoio técnico à formulação de políticas públicas. Em diferentes contextos, essas unidades também contribuem para a sistematização e disseminação internacional de experiências brasileiras no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), especialmente por meio de iniciativas de Cooperação Sul-Sul com países da América Latina, Caribe e África lusófona. 

Dessa forma, os Centros Colaboradores podem ser entendidos como estruturas com potencial para fortalecer capacidades institucionais, apoiar redes de colaboração internacional e ampliar a visibilidade de experiências nacionais. Ao atuarem em sinergia com agendas locais e globais de saúde, esses centros contribuem para consolidar o conhecimento técnico e científico em benefício de sistemas de saúde mais integrados, equitativos e responsivos às necessidades contemporâneas. 

Ao apoiar o desenvolvimento de capacidades institucionais, realizar pesquisas e promover formação técnica, os CCs reforçam os princípios do SUS e ampliam seu alcance além das fronteiras nacionais. 

por Danielle Monteiro (Informe ENSP)
Contribuição Júlia da Matta


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