Sábado Nicolau Girardi, coordenador da Estação de Pesquisa de Sinais de Mercado e do Observatório de Recursos Humanos e Saúde do NESCON/UFMG, compartilhou sua visão crítica sobre a realidade das carreiras no Sistema Único de Saúde (SUS), no terceiro encontro do ciclo de seminários sobre desafios estruturais do SUS promovido pelo Observatório do SUS em parceria com a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco). A sessão, realizada em 11 de março de 2024 na Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), trouxe à tona questões importantes sobre os desafios enfrentados pelos trabalhadores da saúde e os caminhos necessários para superá-los.
A Reforma Sanitária incompleta e a necessidade de avanços substanciais
Girardi começou sua palestra destacando as limitações da reforma sanitária no Brasil. Segundo ele, embora a Constituição de 1988 tenha garantido a saúde como um direito universal, a realidade dos serviços de saúde no país ainda reflete uma reforma incompleta. “Temos um grande desafio, que é garantir a saúde como um bem comum e garantir que o SUS seja, de fato, universal e equitativo”, afirmou. Ele apontou que a luta pela construção de uma carreira sólida para os trabalhadores do SUS também é um reflexo das falhas na reforma da saúde.
A contrarreforma do trabalho e seus impactos no SUS
Girardi fez uma reflexão sobre a contrarreforma do trabalho, que, segundo ele, retirou direitos dos trabalhadores e ampliou a exploração no mercado de trabalho. Esse processo também afetou diretamente o SUS, com um aumento da terceirização e a inserção de trabalhadores em condições precárias. Ele enfatizou que, para melhorar as condições de trabalho no SUS, é necessário reverter essa contrarreforma e realizar investimentos em saúde pública, com foco na qualificação e valorização da força de trabalho.
O coordenador do NESCON/UFMG também trouxe à tona a necessidade urgente de investimentos financeiros no SUS, incluindo o aumento de recursos para as carreiras de saúde. “A saúde precisa ser vista como um investimento, não como um gasto”, disse Girardi, alertando que a falta de recursos compromete a qualidade do serviço prestado à população. Ele criticou a ideia de que o gasto com saúde é um custo, defendendo que a valorização das carreiras no SUS é fundamental para melhorar a qualidade da assistência.
A importância da integração federativa e a redefinição das carreiras
Outro ponto abordado por Girardi foi a fragmentação no sistema de gestão e financiamento do SUS. Ele ressaltou a importância de uma abordagem integrada, em que os diferentes níveis de governo (municipal, estadual e federal) trabalhem juntos para garantir a efetividade do SUS. Além disso, destacou que as carreiras no SUS precisam ser mais bem estruturadas, com planos de carreira claros, incentivo à qualificação contínua e melhores condições de trabalho.
Para finalizar, Girardi fez um apelo pela união de esforços para realizar uma reforma completa no SUS, que passe pela valorização dos trabalhadores da saúde, pela ampliação dos investimentos e pela reestruturação das políticas públicas. “Precisamos de uma mudança paradigmática na forma como vemos o trabalho no SUS, transformando-o em um direito universal e garantindo a equidade no acesso à saúde”, concluiu.
Para saber mais sobre o seminário, acesse a análise das questões discutidas na série Em debate e assista à transmissão completa do evento.
Assista abaixo à palestra de Sábado Nicolau Girardi, transmitida ao vivo pelo canal da ENSP no YouTube.